Quando eu fui examinado, por uma banca de pastores, para
minha ordenação, um dos pastores fez uma observação sobre o meu sermão de
prova: “Rodrigo, faltou um pouco mais de cristologia na sua mensagem”. Ele
havia explicado que Cristo deve ser o foco central de toda mensagem, já que Ele
é o foco central da Bíblia. Como ele tinha sido meu pastor, meu professor no
seminário e continua sendo meu amigo, ponderei e levei em consideração suas
palavras.
Acho que fiz a coisa certa. Há cerca de quinze anos
atrás, recém formado e recém casado, ainda tinha muita coisa a aprender –
aprendizado esse que seguimos pela vida afora. Mas algo ficou gravado naquele
dia: a centralidade de Cristo na mensagem, na vida e na igreja.
Depois dos recentes acontecimentos, como o papel
vexatório do Marco Feliciano frente à Comissão de Direitos Humanos e Minorias,
ou o defensor da moral, da família e dos bons costumes Silas Malafaia
celebrando o 3º casamento do neandertal Jair
Bolsonaro, posso dizer que está faltando cristologia.
Jesus não significa mais nada para a igreja. Aliás,
significa sim: significa um meio de espertalhões ganharem dinheiro às custas
dos trouxas. Significa que esses trouxas também são culpados, pois querem se
dar bem às custas do Crucificado. Jesus não é mais o centro de nossas vidas;
hoje, Ele ocupa um local periférico, já que nosso obeso e doentio ego refestela
suas banhas pútridas no trono de nossas vidas, sendo que Cristo é acionado
apenas para dar vazão à nossa insanidade ególatra.
A igreja evangélica brasileira não tem mais o caráter de
Jesus. Somos mesquinhos, vis, violentos, bocudos. Queremos vencer toda
argumentação contrária não na base da lógica argumentativa, mas na base da
ofensa. Em vez de conceitos e idéias serem questionados, parte-se para o
simples ataque ad hominem. Preferimos estar certos a estar em paz
com o próximo. Adaptando a velha máxima, perdemos os amigos mas não perdemos a
piada (sem graça).
Jesus disse que o mundo saberia que Ele foi enviado na
medida em que o amor fosse não apenas um conceito utópico, mas uma prática
corriqueira entre nós. Portanto, o mundo desconhece, por completo, a verdade da
encarnação da Verdade, pois nos odiamos, fazendo guerra entre nós mesmos.
À semelhança dos judeus confrontados pelo Crucificado em
Jo 8, temos chamado o diabo de papai, uma vez que ele tem moldado o caráter de
uma geração de gente cheia de religião, mas hermeticamente fechada à
possibilidade da misericórdia como práxis. Já que o diabo, o pai da mentira, formata
a mentalidade de muitos, o Deus verdadeiro se tornou um deus fake,
parecido com aqueles deuses pagãos, que exigem sacrifícios para apaziguar a
ira. Não oferecemos mais virgens no altar (mesmo porque elas praticamente não
existem mais), mas sacrificamos, de bom grado, nossa integridade, nossa
sanidade e nosso respeito próprio, em troca de um prato de lentilhas vencidas.
Tenho esperança que Deus salve pessoas nessa massa de
gente religiosa que O louva com os lábios, mas cujo coração está longe. Afinal,
Deus é Deus. Mas não tenho esperança em relação à indústria religiosa que se
formou hoje no Brasil, que faria Jerry Falwell ficar
envergonhado. Sua queda já pode ser vista. E não fará falta.
Digão anda meio sem paciência com o que
vê,
Autor: Digão
Postado originalmente no Blog Genizah.
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